Por Grazielle Seabra
Falar sobre prevenção da violência contra a mulher não deve ser um chamado à culpa nem à defensiva. É um convite à responsabilidade mútua, à maturidade nas relações e ao cuidado com aqueles que caminham ao nosso lado. Os homens têm um papel essencial nessa construção, não apenas como suspeitos, mas como parceiros, cidadãos e agentes de convivência saudável.
A prevenção da violência começa muito antes de qualquer conflito; nasce na forma como cada pessoa lida consigo mesma e com as emoções que carrega. Para os homens, isso significa compreender que força não está na imposição, mas no autocontrole, no respeito e na capacidade de conduzir diálogos difíceis com equilíbrio. É a maturidade emocional que evita rupturas desnecessárias, explosões impulsivas e mal-entendidos que, com o tempo, podem se transformar em relações tensas e prejudiciais.
Vale ressaltar que, antes que a violência se manifeste, quase sempre existem sinais emocionais: ciúmes desproporcionais, tentativas de controle, falhas de comunicação, desrespeito às escolhas e ao espaço do outro. Reconhecer esses sinais não é admitir fraqueza; é demonstrar inteligência relacional. Homens que desenvolvem essa percepção reduzem drasticamente o risco de situações conflituosas, e constroem vínculos mais sólidos, dignos e seguros.
Há caminhos simples e eficazes para essa prevenção silenciosa:
* Autoconsciência: perceber quando a irritação virou agressividade, quando a frustração virou impulso.
* Comunicação honesta: falar sobre sentimentos sem medo de parecer menos forte.
* Limites saudáveis: entender que amor não é posse, parceria não é vigilância e respeito não é negociação.
* Autonomia emocional: aprender a lidar com rejeição, críticas e divergências sem transformar isso em conflito.
* Escuta ativa: ouvir com atenção verdadeira, sem transformar conversas em disputas de poder.
Essas habilidades não são apenas qualidades pessoais; são formas de responsabilidade social. Relações mais saudáveis começam quando cada pessoa inclusive os homens, assume a parte que lhe cabe no cuidado diário. Isso não elimina diferenças, mas evita que pequenas tensões se transformem em comportamentos inadequados ou, no extremo, em violências que poderiam ter sido prevenidas.
E aqui surge um ponto fundamental: a violência nunca começa grande. Ela nasce em gestos pequenos, muitas vezes invisíveis. Por isso, reconhecer a própria sensibilidade, buscar apoio quando necessário, aprender a se comunicar e estabelecer limites internos são atitudes que protegem não apenas as mulheres, mas também os próprios homens. Protegem famílias, filhos, relações, reputações e caminhos de vida.
A lei intervém quando tudo o mais falhou. A prevenção, porém, nasce no cotidiano: no diálogo, no respeito, na paciência, no reconhecimento da humanidade do outro e na coragem de olhar para dentro. Homens que compreendem isso não se distanciam da sua identidade. Pelo contrário: tornam-se mais fortes, mais seguros e mais preparados para construir relações que honram o que há de melhor na convivência humana.
Porque prevenir violência não é um gesto contra os homens é um gesto a favor deles, das mulheres e da sociedade inteira.
Grazielle Seabra
Advogada especialista em Segurança Pública e Direito Tributário


















