A medida que veio para reativar o mercado automotivo no Brasil teve, ao menos nessa primeira semana, um efeito contrário. As vendas estão praticamente paralisadas e algumas empresas fabricantes de veículos começam a fazer as contas de quanto perderão em negócios até que o ministério da Fazenda dê o aval para que sejam aplicadas as reduções em IPI e PIS/Cofins em modelos com preços até R$ 120 mil. “Na última semana tivemos uma retração de mais ou menos 20% em nossas vendas. É um movimento muito forte. A cada dia tem aumentado a desistência de clientes com interesse em comprar um carro zero km”, relatou Ciro Possobom, CEO da Volkswagen no Brasil.
Ele demonstrou grande preocupação com o que pode acontecer daqui em diante com o mercado nacional após a indefinição de quando o pacote do governo entra em vigor. Em conversa com a reportagem nesta sexta-feira, 2, repetiu várias vezes a expectativa de que o anúncio do ministério da Fazenda já deveria acontecer “ainda hoje”. E foi além: “O que já está ruim será muito pior. Se nesta sexta-feira não sair nenhum anúncio perderemos mais um fim de semana sem oportunidade de venda”.
Na sexta-feira o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estiveram na região do ABC Paulista para uma série de visitas a empresas e sindicatos vinculados ao setor automotivo. Mas não houve qualquer pronunciamento a respeito das novas regras para fomentar as vendas de automóveis. A Fenabrave, entidade que congrega os revendedores, divulgou o balanço das vendas de maio e uma análise do comportamento do mercado: afirmou que ainda não é possível verificar o impacto da paralisação das vendas na última semana após o anúncio do governo no Dia da Indústria, 25 de maio. E que a queda de 10,3% na média de veículos vendidos diariamente “pode ser atribuída à restrição de crédito e à queda no poder de compra do consumidor”. O presidente José Maurício Andreta Júnior argumentou, em comunicado, que “como há um certo intervalo da data da compra do carro com a de seu registro pela Senatran, devemos sentir uma maior retração nos emplacamentos apenas nos primeiros dias de junho”. Ou seja: a preocupação de Possobom, da VW, é bastante válida e os piores efeitos da indefinição sobre se as medidas do governo entrarão, de fato, em vigor, ou ainda, qual o prazo de validade dessas medidas, devem ser sentidas nas próximas semanas.
Para piorar até as vendas diretas, muitas delas para locadoras e operadores de frota, também estão em compasso de espera: “Todos estão fazendo contas. E vão esperar o tempo necessário para poder fazer um negócio com o maior desconto possível. Quem vai comprar um carro agora?”. “Essa indefinição custa muito dinheiro”, argumenta o CEO da Volkswagen, que esteve em Brasília (DF) para levar as demandas da sua companhia. “Fomos ao governo individualmente para apresentar uma pauta de iniciativas para impulsionar o setor automotivo. O crescimento esperado este ano é muito pequeno. É preciso fazer algo”. No entanto Possobom espera que as medidas se estendam por um período capaz de induzir o mercado a trazer de volta um ritmo de produção que ocupe minimamente dois turnos em suas fábricas. “Se se confirmar o período de três a quatro meses será muito ruim porque haverá um movimento de antecipação da demanda. Espero que o período seja maior. E que até o fim do ano, com queda nos juros, haja um reaquecimento natural da demanda. Se for um programa muito curto e a economia não ajudar nas vendas teremos que usar novamente o layoff para ajustar nossa produção à demanda. Espero que não”, afirmou.
Em maio a Volkswagen foi a vice-líder de vendas no País com 16,5% de participação do mercado total, segundo Possobom. Este desempenho mensal, impulsionado pelas vendas do Polo, contribuiu para o resultado total da companhia: “A rentabilidade está vindo. É boa. Não é maravilhosa, mas é boa. A operação está bem mais saudável do que no passado”. A ocupação média de todas as fábricas de veículos instaladas no Brasil, hoje, é de 47%.