As mulheres maranhenses assumem cada vez mais o protagonismo na chefia dos lares. De acordo com dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54,6% das famílias do Maranhão são chefiadas por mulheres. O número confirma uma tendência que vem crescendo nas últimas décadas e posiciona o estado entre os que têm maior participação feminina na liderança familiar em todo o país.
De acordo com a pesquisa, do total de famílias únicas e conviventes (entende-se por convivente os núcleos familiares em uma mesma unidade doméstica em que havia, de algum modo, entre os parentes, uma relação de conjugalidade ou de filiação separadas) principais do Brasil, em 2010, 37,3% delas tinham como responsável mulheres. No Maranhão, esse percentual, era maior: 41,3%. Em 2022, avançou o percentual de mulheres como responsáveis pelo domicílio tanto no Brasil quanto no Maranhão: 48,4% e 54,7%, respectivamente.
Em 2022, de todas as Unidades da Federação, o Maranhão tinha o segundo maior percentual de famílias (únicas e conviventes principais) que tinham mulheres como pessoas responsáveis pelo domicílio. Amapá (55,5%) liderava essa situação familiar. O menor percentual foi detectado em Santa Catarina (42,6%).
“A partir da minha separação, eu passei a ser provedora da minha família. Tenho dois filhos, o genitor deles nunca mais vi, então a responsabilidade ficou só pra mim. Esses dados só confirmam o que a gente mais vê hoje em dia. As mulheres são muito mais responsáveis com sua família”, disse a professora Ana Letícia Alencar.
A partir da minha separação, eu passei a ser provedora da minha família. Tenho dois filhos, o genitor deles nunca mais vi, então a responsabilidade ficou só pra mim. Esses dados só confirmam o que a gente mais vê hoje em dia. As mulheres são muito mais responsáveis com sua família.
O levantamento mostra uma transformação importante no perfil das famílias maranhenses. Se antes a figura masculina predominava como principal responsável pelo sustento do lar, hoje a mulher ocupa esse papel com mais frequência. Especialistas apontam que o fenômeno é resultado de mudanças sociais, econômicas e culturais, como a busca por autonomia financeira, o aumento da presença feminina no mercado de trabalho, e ainda quanto a fatores estruturais, como a ausência de companheiros e as mudanças no mercado de trabalho.
Janaína Feijó, pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, afirmou, em uma reportagem divulgada pela FGV que o aumento de mulheres que se declaram chefes de família, refletem uma pressão maior de outras responsabilidades além da busca por uma fonte de renda. Pela definição do IBGE, uma pessoa chefe de família é aquela que é reconhecida por todos da casa como a responsável pelos negócios da respectiva casa. “É uma mudança importante, que reflete não apenas alterações nas normais sociais e culturais, mas fenômenos subjacentes como o aumento de domicílios chefiados por mães solo”.
Desafios persistem para chefes de família
Apesar do avanço em termos de representatividade e independência, as mulheres que lideram famílias no Maranhão ainda enfrentam condições socioeconômicas desafiadoras. Grande parte delas vive com baixa renda e sem acesso a empregos formais, o que amplia a vulnerabilidade social — especialmente nas zonas rurais e nas periferias das cidades.
Para a socióloga e pesquisadora maranhense Ana Paula Sousa, o crescimento da chefia feminina é um retrato de força e resistência, mas também de carência de políticas públicas. “As mulheres estão à frente dos lares, muitas vezes sem o apoio necessário do Estado. É um avanço em termos de autonomia, mas ainda há um longo caminho a percorrer para garantir igualdade de oportunidades”, afirma.
É uma mudança importante, que reflete não apenas alterações nas normais sociais e culturais, mas fenômenos subjacentes como o aumento de domicílios chefiados por mães solo
Comparativo com outras regiões do Brasil
A realidade do Maranhão, embora marcante, pode ser ainda mais bem compreendida quando colocada em perspectiva nacional. Segundo dados do IBGE e de estudos complementares:
Em 2005, a proporção de famílias chefiadas por mulheres no Brasil era de cerca de 30,6%, estando em crescimento.
Na região Nordeste, por exemplo, esse tipo de arranjo familiar era tradicionalmente mais frequente. Em 2004, uma matéria informava que 29,3% das famílias nordestinas tinham mulher como chefe.
Estudos apontam que nas famílias chefiadas por mulheres na região Nordeste, há maior incidência de pobreza multidimensional — ou seja, a vulnerabilidade não se limita à renda, mas inclui educação, habitação, saúde.
Para se ter ideia da magnitude da evolução: entre 2001 e 2009, o percentual de famílias chefiadas por mulheres no Brasil passou de cerca de 27% para 35%.
Neste contexto, o número de 54,6% no Maranhão representa não apenas um avanço, mas um indicativo de que, no estado, a realidade da chefia feminina de família já ultrapassa a média nacional e regional.
Força e protagonismo feminino
O fato de mais da metade dos lares maranhenses serem chefiados por mulheres é, ao mesmo tempo, um símbolo de conquista e um alerta. Representa a força e a resiliência feminina diante das dificuldades, mas também reforça a urgência de investimentos que assegurem dignidade e oportunidades para quem sustenta o lar.
“As mulheres não apenas cuidam de suas famílias — elas movem a economia local e sustentam o tecido social do estado. Reconhecer esse papel é fundamental para construir uma sociedade mais justa”, conclui a pesquisadora.
As mulheres estão à frente dos lares, muitas vezes sem o apoio necessário do Estado. É um avanço em termos de autonomia, mas ainda há um longo caminho a percorrer para garantir igualdade de oportunidades
Outros dados relevantes
Renda média: lares chefiados por mulheres têm rendimento cerca de 25% menor que os chefiados por homens no Maranhão.
Perfil predominante: mulheres entre 30 e 49 anos, em sua maioria negras ou pardas, com um ou dois filhos. No caso das mulheres responsáveis por famílias únicas e conviventes principais, as pardas correspondiam a 66,2% do total, seguida pelas brancas, 17,7%, e pretas, 15,7%. Percebe-se que no Maranhão entre pessoas responsáveis brancas nas famílias, homens brancos (20,2%) tinham percentual acima das mulheres (17,7). Áreas rurais concentram maior vulnerabilidade, mas a presença feminina na chefia cresce também nos centros urbanos.
Educação: aumento expressivo do número de mulheres com ensino médio completo e ensino superior, o que reflete maior autonomia.
Com nível superior, no caso dos homens no Maranhão, em 2022, quando responsáveis pela família, 9,4% deles tinham superior completo. Mulheres responsáveis pelas famílias, o percentual delas com nível superior estava acima da realidade masculina: 11,3%.
As mulheres não apenas cuidam de suas famílias — elas movem a economia local e sustentam o tecido social do estado. Reconhecer esse papel é fundamental para construir uma sociedade mais justa























