Por Carlos Brandão
Há histórias que não cabem apenas em livros. Pulsam no ritmo das ruas; ecoam nas batidas dos tambores; dançam nos corpos que se entrelaçam e sobrevivem no olhar firme de um povo que nunca aceitou ser invisível. Novembro é o mês em que essa história ganha cor, voz e celebração, quando cultuamos a Consciência Negra. No Maranhão, nós vivemos essa memória todos os dias.
No dia 20 de novembro, lembramos Zumbi dos Palmares, símbolo de liberdade e resistência. Ele é a certeza de que a luta corre nas veias do povo preto, inspira os passos da nossa gente e molda a identidade do Maranhão – um estado onde 79% da população é negra, onde está o maior quilombo urbano da América Latina – o bairro da Liberdade – e a cidade com a maior concentração de negros do país: Serrano do Maranhão.
Por essa imensa parcela da população, assumimos compromissos concretos. Nosso governo tem feito isso com seriedade e planejamento. Criamos o Centro de Referência da Mulher Negra Ana Sílvia Cantanhede, garantindo acolhimento, proteção e oportunidades. Ampliamos o afroempreendedorismo com a Feira MA Preta, agora no calendário oficial do estado. Fortalecemos o Estatuto da Igualdade Racial e promovemos debates como o “Julho das Pretas”, que ajudam a transformar políticas públicas em ferramentas reais de inclusão. Avançamos ainda na justiça histórica: já entregamos títulos definitivos a 39 comunidades quilombolas – 2.500 famílias, que hoje têm segurança, dignidade e futuro. O trabalho intenso e comprometido das equipes do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) fez com que conseguíssemos regularizar 13 comunidades por ano. Um salto histórico e, certamente, alentador para quem vivia sob o fantasma da insegurança jurídica e que há muitos e muitos anos aguardava o documento de sua terra. Afinal, nos 50 anos anteriores ao nosso governo, foram tituladas 50 comunidades quilombolas – ou, em média, uma ao ano.
Todas essas conquistas se conectam com algo muito nosso: a alma regueira.
Porque aqui, no Maranhão, o reggae é identidade, memória, espiritualidade e, acima de tudo, resistência. Não à toa, São Luís se tornou a Capital Nacional do Reggae pela Lei 14.668, de 2023, publicada no Diário Oficial da União (DOU). Uma proposição que nasceu do Projeto de Lei (PL) 81/2020, de autoria do então deputado Bira do Pindaré, e que foi sancionada pelo presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin. Aqui, o ritmo chegou pelo mar, nos anos 70, foi acolhido pelas periferias negras de São Luís e virou marca registrada: a dança agarradinha; as radiolas que pintam as ruas de som; as letras que falam de amor, paz, fé, luta e pertencimento.
E não por acaso, neste fim de semana, no Mês da Consciência Negra, a ilha vibra com o maior festival de reggae da América Latina. Uma festa que reúne artistas locais, nacionais, internacionais e que reafirma nossa ligação profunda com a Jamaica, fortalecida desde a visita oficial do ministro Edmund Bartlett e o memorando de entendimento que firmamos para ampliar o intercâmbio cultural e o turismo sustentável entre nossos povos.
Neste cenário paradisíaco, o festival significa cultura preta ocupando o seu lugar. É a celebração de uma história que resistiu ao preconceito, venceu o silenciamento e se transformou em orgulho. É a prova de que investir em movimentos como esse é investir em pessoas – no trabalho de DJs, na força das radiolas, no artesanato, no turismo e em toda sua cadeia produtiva.
O novembro da Consciência Negra é um mês que devemos refletir, aprender, honrar quem veio antes e, ao mesmo tempo, celebrar. Porque resistir também é dançar. É cantar. É existir com alegria, consciência e liberdade.
Que o ritmo do reggae nos lembre que nossa luta não para; que nossa voz não cala; e que nossa festa é, acima de tudo, um ato de resistência.























